sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Na fila da apresentação quinzenal...

Na Junta de Freguesia para a apresentação quinzenal obrigatória. Uma, duas, três, quatro, cinco pessoas... e eu! Não há mais ninguém na fila, só os "condenados" com as famigeradas folhas para o último carimbo do ano. Ah, pois é! Está aí o Natal e logo, logo, o Ano Novo! 

Depois da abundância de açúcar das festas, restarão os "pneus" recauchutados e talvez, ainda, alguma esperança de um ano verdadeiramente novo. Quando se vai a esperança... Ficam as folhas, à espera do afago da tinta e da assinatura certificada.

E o tempo dos sem emprego continuará largo ou estreito, conforme a camisola que se vestir, e preso à burocracia




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Uma árvore na cabeça



Também eu precisava que me crescesse uma árvore na cabeça! Com muitas folhas de inspiração e troncos bastantes para suportarem muitos frutos.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A disciplinada perseguição do menos

E nestes dias, debato-me com isto:

- A disciplinada perseguição do menos.

"Not just haphazardly saying no, but purposefully, deliberately, and strategically eliminating the nonessentials. Not just once a year as part of a planning meeting, but constantly reducing, focusing and simplifying. Not just getting rid of the obvious time wasters, but being willing to cut out really terrific opportunities as well. Few appear to have the courage to live this principle, which may be why it differentiates successful people and organizations from the very successful ones."

Eliminar o não essencial. Simplificar. Saber dizer não às oportunidades que não interessam. Parece tão fácil, mas porque será tão difícil?



domingo, 16 de dezembro de 2012

A clarividência num prato de arroz de açafrão com tâmaras


O ser humano busca, repetidamente, o prazer. O prazer de ler. O prazer de comer. O prazer de ter. E cada vez mais, nesta sociedade movida pelo direito de posse, o ter assume-se como palco privilegiado de todos os prazeres. Um bom carro, o último modelo de telemóvel lançado no mercado, um casaco de marca, uns sapatos de autor...

É sabido que a imagem tem uma importância fundamental nos dias que correm. As relações sociais, e até profissionais, medem-se pelas boas aparências. Ter é, nesta actualidade superficial, sinónimo de ser. Quem não tem, não é! Ora, neste filme da crise, está o ser empatado.

Quem sabe se esta crise não terá o condão de dar uma lição à humanidade? Melhor, se não será a única via de garantir a auto-sustentação da Terra perante a voracidade invasora dos seus habitantes?

Ideias que embrulhei no palato com um arroz de açafrão com tâmaras. Não é que as tâmaras fizessem falta! Mas são o fruto proibido do prato, os hidratos de carbono excessivos e desnecessários. Afinal, o excesso está entranhado nesta humanidade destroçada que somos e, se calhar, só à força poderemos conter todos os nossos apetites.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Panados de pescada preguiçosos

A preguiça é mais da "cozinheira" do que do pobre peixe! Mas aqui fica a receita (para os audazes!):




Ingredientes:

Filetes de pescada quanto bastem
Ervas aromáticas a gosto
Sumo de um limão farto
Uma pitada tímida de sal
Um punhado generoso de farinha de milho
Hortelã para envaidecer o prato

Modo de preparação:

Temperar os filetes cerca de 30 minutos antes de os panar. Eu não dispenso uma mistura de ervas aromáticas com funcho e abuso do caril e do sumo de limão. Mas o tempero fica ao gosto do freguês.

Depois é só passar os filetes pela farinha de milho, fritar e comer com deleite.

P.S.: a farinha de milho da minha mãe dura e dura... Felizmente!








quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Quando saber escrever não faz falta


Os blogues eram, ainda não há muito tempo, a principal forma do chamado "conteúdo gerado pelo utilizador" na Internet. Disseminaram-se sob os mais diversos tipos de pretextos e modelos, mas havia um problema. Era preciso saber escrever para existir virtualmente num blogue.

Na era do Twitter e do Facebook, a barreira da escrita já não existe. É só preciso alinhavar umas letras, partilhar uns links, umas fotos e está feito. Saber escrever não é mais um requisito necessário. E, tão pouco, é preciso saber ler (na perspectiva de saber interpretar um conteúdo) - é só seguir a tendência dos comentários.

Uma assustadora evolução! Deverá fazer-nos temer o pior para o futuro?


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dica de desempregada activa


Isto de enviar currículos é quase cómico! Porque eu também os recebi na minha caixa de email, quando trabalhava, e sei onde eles acabam, quase todos: irremediavelmente no lixo!

Mas é preciso persistir. Alinhavar cartas de apresentação direccionadas aos alvos, fermentar novas ideias para um currículo visualmente único... É uma absoluta perda de tempo! Porque os dias estão só para os estágios e os recém-licenciados.

Este processo faz-me recordar o período em que terminei a Universidade, quando passava dias a fio a aprimorar o meu pobre currículo (em termos de experiência profissional). Devo dizer que cheguei a um modelo que me garantiu um dos meus primeiros empregos. Entreguei-o em mãos e convenci imediatamente o empregador a contratar-me. Era realmente bonito esse currículo cujo formato básico ainda mantenho - num papel bege, com uma textura suave e a minha fotografia (algo que em 1999 era uma quase inovação!).

Ora, não é tanto o conteúdo que interessa, mas antes o pacote em que se enforma. Aqui fica a minha dica de desempregada activa!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Condenado número tal apresenta-se!


Fui hoje à minha primeira apresentação quinzenal. Um processo indolor, rápido quanto baste e ridículo que chegue!

Dizem, os manuais dos direitos e deveres dos desempregados, que estas apresentações visam confirmar que os beneficiários do subsídio não se ausentaram para o estrangeiro. Ora, na verdade, é só uma forma de relegar o desempregado para o lugar de favorecido por uma esmola. Como se tivesse que, de 15 em 15 dias, ir pedinchar o direito usufruído pelo produto do seu trabalho.

E em peregrinação quinzenal lá vai o desempregado, com a culpa (que quase sempre não tem) às costas por ter perdido o seu emprego. Como um presidiário, apresentando-se ao agente de liberdade condicional. E está tudo ordenado para o receber: há horas apropriadas para carimbar a folha que garante o sustento mínimo por mais 15 dias; placards com alertas sublinhados a amarelo e funcionários demasiado habituados ao serviço. É só mais uma prova do trágico crescente número dos sem trabalho.


 


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Almoço de desempregada


Risotto de ervas silvestres com morangos e bolinhos de feijão com farinha de milho




Ingredientes:

Para o risotto vai precisar de:

Arroz que farte
Caldo de uma galinha caseira (criada pela mãe) 
Um copo de vinho branco feito pelo pai
Um punhado de ervas colhidas delicadamente no jardim 
Alho a gosto
Um fio de azeite
Manteiga e queijo ralado que bastem
Três ou quatro morangos apanhados no canteiro 

Para os bolinhos precisará de:

Uma mão cheia de farinha de milho
Um punhado generoso de feijões tarrestre 
Ervas aromáticas bastantes
Leite que chegue

Modo de preparação:

Para os bolinhos tomar um punhado de farinha de milho generosamente moída pela mãe. Esmagar os feijões previamente cozidos, e bondosamente debulhados pela mãe, e misturar com a farinha de milho. Acrescentar as ervas aromáticas cortadas, depois de colhidas no jardim. Deitar o leite e misturar, procurando uma consistência que permita formar os bolinhos. Levar a fritar.

Para preparar o risotto, começar por refogar o alho com um fio de azeite. Quando translúcido, acrescentar o arroz e envolver bem. Adicionar o copo de vinho, misturando bem e deixando evaporar. Começar a acrescentar o caldo quente, uma concha de cada vez. Mexer sempre e deixar o líquido evaporar antes de verter nova concha de caldo. Entretanto, junte as ervas silvestres (nem todas!) apanhadas no jardim. Vá acrescentando o caldo aos poucos, até ficar no ponto. Finalmente, acaricie com a manteiga cortada aos cubos e com o queijo ralado, batendo com muito carinho. 

Depois de o risotto pronto, é preciso cortar os morangos crescidos no jardim, dispondo a preceito, na hora de servir.

Acompanha com um copo de água da torneira. Fresquinha, como os dias!


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Como desacelerar?


Depois dos tempos dos sete ofícios, de ter mil e uma tarefas a martelar na cabeça em simultâneo, é complicado abrandar o passo. Não há horários nem prazos para cumprir, mas a pressa resiste, percorrendo as veias. Corro de um lado para o outro e nem sei porquê, na ânsia de produzir algo palpável, para lá do comezinho quotidiano. E nunca há tempo para nada!

Entre os currículos enviados e os escritos não remunerados, as horas fogem e, no fim do dia, fica só o restolho da minha singela vidinha. Poderá haver algo mais para lá disso? Terá que haver algo mais?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Três dias sem Internet: é possível!


Parece impossível! Mas é verdade, sobrevivi a três dias sem me ligar à Internet. E com o computador no canto da sala, a piscar-me o olho, como uma tentação capital!

Não é assim tão difícil o alheamento do mundo virtual quando há dois filhos a puxarem-nos as saias o dia todo. Contudo, não deixa de ser uma batalha.

Agora que volto à rede, há aquela ânsia de actualização, de sorver tudo o que foram estes três dias sem mim! E não é possível apanhar o fio da meada - urge recomeçar o novelo e esquecer o branco dessas páginas. E é assustador! Porque a vida real fluiu como a água do rio, sem parar, à flor e dentro da pele. Como explicar que aquilo que se passa neste ecrã maravilhoso tenha tanta relevância?

Na Internet temos a absoluta certeza da nossa insignificância no mundo global. Mas é também na World Wide Web que nos sentimos parte da engrenagem planetária, embora apenas uma migalhinha... É, tragicamente, cada vez mais, a única forma de nos sentirmos reconhecidos e, de algum modo, existencialmente úteis.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Não há verdadeiro jornalismo multimédia em Portugal


O escritor norte-americano Nicholas Carr, finalista do Pulitzer e grande crítico dos efeitos da Internet na estruturação do pensamento, dá uma entrevista ao Público, onde aflora temáticas que vêm ao encontro do artigo que aqui escrevi - O jornalismo em vias de extinção - e que ilustram alguns dos problemas com que o jornalismo se debate na actualidade.

Carr manifesta-se surpreendido pela forma como a Internet se transformou de "um meio de informação para um meio de mensagens". "As pessoas tendem a usar a tecnologia para trocar mensagens pessoais, mais do que para procurar informação", considera ele.

De facto, é evidente que a larga maioria dos utilizadores da Internet começa a ter o Facebook como centro agregador de toda a informação. Já não vão aos jornais em busca de notícias, esperam que estas caiam no monitor. Deitam uma mirada ao título partilhado, consultam os comentários ao "post" para se contextualizarem e já quase não vão clicando na notícia. E poucos são os que lêem um artigo completo - eu própria, que gosto muito de ler livros, não consigo ler um texto extenso na Internet.

Ora o jornalismo português não está preparado para estas novas circunstâncias. De resto, não temos verdadeiro jornalismo multimédia em Portugal. Aquilo que há é jornalismo escrito transposto para o online - com uns vídeos pelo meio, para entreter o povo!

Mesmo as publicações que existem somente na Internet, não têm uma linha de actuação estruturada para a web - estão presas a velhos esquemas que moldam desde sempre o jornalismo. E evidentemente que não conseguem satisfazer as exigências de um novo público, mais sedento de informação do que nunca, mas menos interessado em processar essa informação de modo atento e crítico. O que importa é não perder o fio à meada das polémicas e dos insólitos!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O jornalismo em vias de extinção


Quanto entrei para a Universidade, no longínquo ano de 1994, já o jornalismo estava em crise! Então, o grande problema era a falta de experiência dos recém-licenciados; os cursos de jornalismo/comunicação social estavam desvalorizados e as principais publicações privilegiavam, sobretudo, o trabalho feito. Como mudaram as coisas!

Hoje em dia, as ofertas de emprego que existem por aí são maioritariamente para recém-licenciados, mão de obra baratinha (nalguns casos de borla!) e disposta a tudo. O foco passou da qualidade para o pragmatismo da crise! 

Mas se a profissão continua imersa na crise, embora de outro padrão e gravidade, é sinal de que o futuro não pode ser próspero para o jornalismo. Na verdade, os jornalistas não conseguiram adaptar-se aos novos tempos, nem encontrar um novo paradigma que defina aquilo por que são importantes. Temo que só os jornalistas se sintam importantes nesta pseudo-democracia em que vivemos, enquanto o público em geral não lhes atribui grande utilidade. E esse é um dos problemas maiores.

A maioria dos jornalistas escreve/fala para os da sua classe, quando executa uma peça jornalística. Não é só a terminologia "técnica", aqueles chavões que se tornaram comuns e que não dizem nada! Ouvir uma peça jornalística sobre economia não é muito diferente de escutar um jornalista desportivo a expressar-se no malfadado futebolês - em ambos os casos, o que fica é uma mão cheia de pouca ou nenhuma informação relevante.

Deixamo-nos "apanhar", nós jornalistas, esta espécie em vias de extinção, pela vacuidade dos dias, onde a informação é só mais um bem perecível e, cada vez mais, um bem terciário, relegado para o fundo da lista de prioridades do público (aqueles que não estudaram comunicação social, nem jornalismo, e que se estão a marimbar para a deontologia profissional).

Creio que muitos dos leitores/espectadores/ouvintes não desejam sequer uma informação isenta e imparcial; esperam, simplesmente, por notícias que enformem as suas "vidinhas", que vão ao encontro daquilo que são os seus desesperos e as suas esperanças. Não querem uma perspectiva desinteressada e clara da realidade, mas antes um ponto de vista que justifique a sua condição. Não querem ser elucidados, preferem ser iludidos. E se há esta divergência nítida entre o dever do jornalista e o interesse do seu público, como sustentar o futuro da profissão?

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O "monstro" e as ovelhas


Fui hoje a uma sessão de esclarecimento no Centro de Emprego onde fiquei a saber que tenho que procurar, activamente, trabalho! A sério?! Eu que estava a pensar acomodar-me ao meu milionário subsídio!

Se enviar um currículo por semana, posso tirar 30 dias de férias desta activa procura de emprego! Espantoso!

E, como autêntica arguida sem culpa formada, não posso ir para o estrangeiro sem avisar!

São curiosos os direitos e deveres dos desempregados, como uma espécie criminosa que se quisesse aproveitar de uma condição tão extraordinariamente valorizadora!

Além da minha presença, a sessão contou com mais seis pessoas - a única coisa a ligar-nos é o facto de nos termos inscrito no mesmo Centro de Emprego na mesma data. Entre os comparsas de desemprego, estava uma senhora que tinha idade para ser minha avó. Ainda por cima, tinha ficado viúva há pouco tempo. Como é que se pode colocar uma senhora de tal idade em condições semelhantes a pessoas como eu?! Será que se deve exigir a alguém de 60 anos que encete uma busca activa de trabalho?!

São os procedimentos do "monstro" que não tem coração. Alinha os números e dispara. E as "ovelhas" só têm que enfileirar e obedecer. Quem não o fizer, sai da engrenagem e... morre à fome!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Germinar

"Temos que nos enterrar, de germinar como a semente, para que ainda possa nascer algo de novo, de diferente. Não é tempo que falta, o que falta é uma nova maneira de encarar as coisas. Um novo apetite pela vida..." - Henry Miller, Nexus.
Um novo apetite pela vida...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A satisfação


Quando recebemos o reconhecimento daqueles que são os nossos "clientes", há uma satisfação particular. O orgulho que depositamos no nosso trabalho ganha intensidade e comprovação. Nas grandes empresas nem sempre os trabalhadores da base da pirâmide têm os seus méritos devidamente recompensados e autenticados. E quando é o público a reconhecer a nossa importância individual num dado projecto, apacificam-se mágoas por eventuais omissões da entidade patronal.

Durante os 12 anos que "jardinei" no Relvado.com, muitas vezes vi o meu trabalho veementemente criticado e o meu papel posto em causa. Sei que granjeei o meu espaço, à força de pulso, no site e que era respeitada pelo núcleo duro dos relvinhas. E não deixo de me surpreender com as palavras que me dirigiram alguns dos utilizadores, nos últimos dias, depois do meu adeus ao Relvado.com. Acomodam-se na alma essas mensagens de elogio e dão dimensão maior ao trabalho feito.

Quando o mesmo louvor é assinado também pela pessoa que foi responsável pelo meu primeiro contrato de trabalho e que acompanhou a minha intervenção no Relvado.com durante sete anos, o sabor da satisfação é mais intenso.

Na verdade, quando em Lisboa ficou definido o meu futuro, não foi o meu trabalho que privilegiou na decisão tomada. Foram os números! E essa é a grande lacuna do mercado de trabalho actual, onde o real trabalho concretizado não conta para nada. As pessoas são meros números na engrenagem e, como migalhas, acabam por desalmar-se, indo ao encontro daquilo que fazem delas. Ora sem alma, nenhum corpo é inteiro e nenhum gesto completo.


terça-feira, 20 de novembro de 2012

A desintoxicação


Isto de ficar sem emprego, exige uma quase desintoxicação, antes de se poder enfrentar a nova vida com discernimento. Quem, como eu, teve o mesmo emprego durante 12 anos, precisa de se habituar à ideia de não ter que repetir os mesmos processos que já estavam entranhados. Não ligar o computador, não abrir o Relvado.com, não querer saber de futebol para nada...

É doloroso! Como será, para um fumador ou um alcoólico em recuperação, resistir ao vício do tabaco ou do álcool. No caso do desemprego é ainda pior! Porque o emprego não está lá a atentar-nos. Só o computador fechado, no canto da sala, como um apelo subconsciente e nocivo.

Temos enraizados na cabeça os processos que ordenavam todos os dias! As repetições que controlavam as horas e o pensamento e, sem as quais, ficamos perdidos. Abre-se um vazio, apesar da imensidão de tarefas que nos aguardam - todos aqueles assuntos comezinhos que fomos sempre adiando por falta de tempo. E agora, o tempo é tanto e não há tempo para nada!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Na fila do desemprego...


Hoje é o primeiro dia de uma nova vida! HOJE é o primeiro dia de uma nova vida! Tenho que o repetir, em voz alta, para acreditar. Caí na crescente fileira de desempregados deste país entristecido, após 12 anos vinculada ao Relvado.com, um projecto que nasceu há precisamente 12 anos!

Sou jornalista, gestora de conteúdos e de comunidades na internet (nunca tanto esta terminologia me ressoou na cabeça!). 36 anos. Mulher. Dois filhos. Estou condenada! De nada vale a experiência de 12 anos, na minha área de formação, no tacanho mercado de trabalho português, onde os tempos pedem recém-licenciados que saltem de estágio em estágio, não remunerados e dispostos a fazer tudo.

Durante 10 desses 12 anos fui a alma do Relvado.com, alimentando-o sozinha. Peguei no site pela mão, como verdadeira mãe adoptiva, depois de um convite feito num treino de Viet Vo Dao para colaborar naquilo que era então um mero fórum sobre futebol. Parido em Braga, da inspiração de um grupo de informáticos iluminados, vinculados à Eurotux, e que nada percebiam de futebol, o Relvado.com foi crescendo à medida do meu esforço e eu fui crescendo com ele.  

Fui jornalista, editora, gestora de conteúdos, gestora de comunidades, publicitária, moderadora, utilizadora disfarçada, bombeira, incendiária, polícia, árbitra, jardineira... Chorei, sorri, gargalhei, suei as estopinhas, errei muito, cresci também e aprendi imenso com tantas pessoas que tive o privilégio de conhecer. Mesmo com aquelas que, por uma ou outra razão, me brindaram com uma injustiça inexplicável.

O Relvado.com passou da Eurotux, ao AEIOU e à Impresa, sempre comigo como a mulher do leme. Muita letra correu, apressada, pelos meus dedos de formiguinha trabalhadora no teclado. Dá-se agora nova transmissão e, já sem mim, outras mãos asseguram a sobrevivência do Relvado.com, lutando corajosamente contra a maré de crise.

Como mãe adoptiva e de sangue, sei que é preciso soltar a mão dos filhos, largá-los no mundo! É tempo de o Relvado.com sair de debaixo das minhas saias e encetar o caminho amparado por outros. O desprender faz-se não sem mágoa, não sem dor, mas é chegado o momento de separar o rebento do seu criador de leite. 

Será estranho ver o Relvado.com respirar longe de mim, mas é com alívio que regresso à condição de relvinha (o simpático nome que caracteriza os autênticos utilizadores do site) e à paixão pura do adepto de futebol. Vai ser bom poder assistir a um jogo sem pensar em escrever sobre o assunto! Deixar fluir livremente o clubismo entre os amendoins e uma cervejola.  

Quanto ao futuro, ninguém sabe o que virá. Só desejo que, embora separados, o êxito seja o denominador comum nos trilhos que, tanto eu como o Relvado.com, inventaremos.