quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Não há verdadeiro jornalismo multimédia em Portugal


O escritor norte-americano Nicholas Carr, finalista do Pulitzer e grande crítico dos efeitos da Internet na estruturação do pensamento, dá uma entrevista ao Público, onde aflora temáticas que vêm ao encontro do artigo que aqui escrevi - O jornalismo em vias de extinção - e que ilustram alguns dos problemas com que o jornalismo se debate na actualidade.

Carr manifesta-se surpreendido pela forma como a Internet se transformou de "um meio de informação para um meio de mensagens". "As pessoas tendem a usar a tecnologia para trocar mensagens pessoais, mais do que para procurar informação", considera ele.

De facto, é evidente que a larga maioria dos utilizadores da Internet começa a ter o Facebook como centro agregador de toda a informação. Já não vão aos jornais em busca de notícias, esperam que estas caiam no monitor. Deitam uma mirada ao título partilhado, consultam os comentários ao "post" para se contextualizarem e já quase não vão clicando na notícia. E poucos são os que lêem um artigo completo - eu própria, que gosto muito de ler livros, não consigo ler um texto extenso na Internet.

Ora o jornalismo português não está preparado para estas novas circunstâncias. De resto, não temos verdadeiro jornalismo multimédia em Portugal. Aquilo que há é jornalismo escrito transposto para o online - com uns vídeos pelo meio, para entreter o povo!

Mesmo as publicações que existem somente na Internet, não têm uma linha de actuação estruturada para a web - estão presas a velhos esquemas que moldam desde sempre o jornalismo. E evidentemente que não conseguem satisfazer as exigências de um novo público, mais sedento de informação do que nunca, mas menos interessado em processar essa informação de modo atento e crítico. O que importa é não perder o fio à meada das polémicas e dos insólitos!

4 comentários:

  1. não concordo. vê, por exemplo, o p3: http://p3.publico.pt/

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    1. Cara amiga, ainda assim reafirmo o que escrevi. Esse exemplo que citas é apenas um "refresco", mas ainda não encerra aquilo que deve ser o verdadeiro jornalismo multimédia: absolutamente multidisciplinar. Como utilizadora da Internet há vários anos, não me encontro plenamente satisfeita nesse modelo. Mas de resto, também não tenho a fórmula perfeita para a coisa :)

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  2. Concordo Susana. Acredito que o ciberjornalismo deve ser basicamente pautado na verdade democrática e não nas verdades corporativistas de grande parte dos veículos de comunicação. Enquanto a maioria dos jornais tenta manipular (por vezes até involuntariamente), as redes online explicitam os factos, sem máscaras. Ser multimédia realmente vai além dos "vídeos pelo meio" e abarca a capacidade do jornalismo prestar informações sem julgá-las antes de publicarem. Engana-se quem pensa que o ciberjornalismo restringe-se às ferramentas multimédia. Ele é muito mais que isto. Ab

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    1. É verdade ab, as redes sociais têm esse condão (no bom e no mau sentido!) de espelharem a realidade em tons mais nus e crus do que as corporações gostariam :)

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